O neoliberalismo é bastante pródigo em construir um discurso comum de apologia à livre iniciativa, de reconhecimento à eficiência e de oportunidades para aqueles que são competentes. Porém, percebemos que as desigualdades sociais cada vez mais se aprofundam em um sistema que se mostra cada vez mais injusto. É notável como que um discurso que se mostrava portador de boas novas, acabou por aprofundar problemas inerentes ao modo de produção capitalista. O neoliberalismo se mostrou pródigo também em produzir cada vez mais contingentes de excluídos pelo mundo afora. Em 2010, presenciamos revoltas em países tidos como modelos da ordem capitalista como as revoltas de trabalhadores e estudantes na França e na Inglaterra. Além das revoltas nestes dois membros do G-7, neste ano ocorreram também revoltas populares em países considerados periféricos como Espanha e Grécia, nos quais a população se mobilizou de forma contundente contra as medidas de diminuição dos rendimentos médios dos trabalhadores.
Como reflexo da ideologia neoliberal na educação, percebemos o papel de transformar o não-mercado e o quase-mercado em mercado propriamente dito. Através da construção de uma unanimidade que, não por coincidência, está a favor da ideologia neoliberal. Percebemos que cada vez mais o sistema educacional está se utilizando de termos que anteriormente faziam parte do vocabulário empresarial. Vivemos num mundo onde cada vez mais a “humanidade se desumaniza”, onde cada vez mais as relações sociais são mercantilizadas. No caso a educação, ela deixou de ser vista enquanto direito universal e passou a ser pensada enquanto serviço, o que a colocaria no mesmo patamar de demais serviços oferecidos, conforme a ótica do capitalismo neoliberal.
Atualmente percebemos que cada vez mais as pessoas são vistas como mercadorias, que cada vez mais se privatizariam as coisas, inclusive o conhecimento. Neste sentido, presenciamos que questões como maternidade e paternidade passam a serem vistos como serviços. Prova disso é que cada vez mais cresce o mercado de mães de aluguel, bancos de esperma ou mesmo tráfico de crianças. É esta conjuntura mercadológica, nas quais as relações sociais cada vez mais são mercantilizadas, que se apresenta para os educadores do Rio Grande do Sul, onde os trabalhadores em educação cada vez são vistos enquanto trabalhadores substituíveis. Exemplo disso foram as ameaças de rendimento por desempenho (meritocracia) defendidas pelo governo Yeda Rorato Crussius.
Se por um lado a política meritocrática é vista como uma ameaça para a estabilidade dos trabalhadores em educação, ela é vista como uma forma de remuneração mais justa por parte de trabalhadores em educação e sociedade em geral. Dentro deste quadro podemos tirar algumas conclusões, dentre elas que o papel do professor mudou. Ele, que antes era visto como uma fonte de informações passa a ser visto como mais um apêndice de uma sociedade que cada vez mais funciona pior. Ao mesmo tempo em que cada vez mais se exigem novos conhecimentos por parte do professor. Não é exceção que cada vez mais os educadores se queixem da obrigação para desempenhar papéis para além de sua formação acadêmica.
Analisando os resultados da pesquisa “A Educação Pública Pede Socorro”, publicada pelo CPERS-Sindicato em 1º de maio de 2010, e também analisando matérias de periódicos utilizadas neste trabalho como o Jornal Zero Hora e mesmo o Jornal Sineta igualmente do CPERS-Sindicato, podemos perceber que os educadores, de forma geral, colocam que são obrigados a desempenhar funções de pais, psicólogos, irmãos e amigos. Numa das tantas versões cada vez mais precarizadas do tão louvado trabalhador-total. Evidentemente que toda esta sobrecarga de funções vai contribuir para aquilo que compreendemos como mal-estar docente. Denúncias dos fatores geradores do mal-estar docente vêm cada vez mais ganhando força no movimento sindical brasileiro. No caso do CPERS/Sindicato, presenciamos que questões como saúde e qualidade de vida vem cada vez mais ganhando força nos debates e encontros sindicais.
Por fim, acredito que este texto possa ter contribuído para que o debate sobre o papel do trabalhador em educação, na sociedade atual, seja revisto. Pois, educar é muito mais que preparar os estudantes para exames de desempenho e receber no final do mês mais ou menos dinheiro, conforme o desempenho dos mesmos nos referidos exames. Por outro lado, o governo Yeda Rorato Crussius chegou ao seu fim. Espero que este governo tenha sido pedagógico no sentido de mostrar aos gaúchos as consequências das políticas neoliberais para a estrutura estatal e consequentemente para a sociedade rio-grandense como um todo, de forma com que possamos impedir que as políticas neoliberais venham a se repetir no governo que se iniciou em 1º de Janeiro de 2011, o governo do petista Tarso Genro.
por Marcelo Noriega, historiador.
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